segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A MENINA E O CRUCIFIXO DE METAL

A menina olhava fixa para o crucifixo de ponta cabeça na cabeceira da cama, enquanto o padrasto deitava sobre ela o corpo úmido e seboso de um dia cheio na oficina. Torcia para que a mãe chegasse logo do trabalho, pois o tilintar das chaves na porta era o aviso que seu martírio, por aquele dia, havia acabado. Questionava o santo por não tê-la salvo, já que assistira a tudo, todos esses anos e até então não havia feito nada. Mas não havia recurso, não havia a quem recorrer se não ao homem pregado na cruz de metal na cabeceira da cama. Tentou um dia falar com a genitora que a esbofeteou de “prima” e a chamou de mentirosa, disse que se a filha desgraçasse seu casamento, iria se virar sozinha pelas ruas. Muitas vezes a investida do padrasto era mais de uma vez por dia, a ponto de a pobre menina adoecer tamanha era a voracidade do agressor. Pensou em fugir, mas para onde? Mal tinha completado treze anos e a vida não tinha sido gentil, nem entre os seus, “imagine nas ruas” - pensava - “Se tivesse um pai para recorrer” - mas a única lembrança paternal, era a figura plácida na janelinha do caixão. Não lembrava mais do rosto vivo do pai, apenas lhe vinha na memória a expressão vazia e sem vida de dentro da urna. As coisas na escola não andavam bem, mas ninguém dava à mínima. Nesse dia em especial saiu um pouco mais cedo, pois havia percebido que seus dias de menina tinham acabado. Ansiosa e um pouco doente, foi direto para casa. Já haviam dito a ela que esse dia estava prestes e ela tinha que se preparar, mas algo lhe atingira na alma, trancou-se no quarto e começou a rezar diante do crucifixo de metal. Observou o quão bonito era o objeto, com detalhes minuciosos e inscrições que ela não tinha a ideia mínima do seu significado. Questionou se o sujeito crucificado havia passado por tormento igual ao que ela estava passando. Notou o peso do objeto, quando tirou da parede. Assustou-se pelos golpes brutos dado na porta de seu quarto: “Nós já conversamos sobre portas trancadas em minha casa, não conversamos?”- era o padrasto –“Hoje estou doente, por favor, me deixe em paz!” – argumentou a menina – Mas não houve resposta e a porta foi abaixo com apenas um golpe do sujeito que entrou bufando em cólera – “Olha só o que você me fez fazer, você e a puta da sua mãe só me dão prejuízo.” – pegou a menina pelo pescoço, como quem fosse estrangular, e a deitou com violência na cama. Começou a rasgar sua roupa, expondo o corpo pouco definido da jovem que lutava sem sucesso contra a investida do seu malfeitor. O homem, ainda com as mãos sujas de graxa, percorreu seu íntimo e percebeu a recente mudança - “Oh! Minha menina está ficando mocinha”, – arrancou-lhe a calcinha, e meteu a cabeça em meio as suas pernas. A menina, angustiada, buscou o santo na parede, mas não encontrou. Lembrou que o havia tirado, tateou pela cama e sentiu o metal frio. Olhou para si, e viu o topo calvo da cabeça do padrasto, ainda em meio as suas pernas, sentiu náuseas, apertou com mãos firmes o crucifixo em seu peito, levantou-o a meia distância, hesitou por um momento e o cravou na nuca do homem que expirou rápido. Toda suja com o sangue do padrasto que se misturava ao seu, foi até a sala da casa, sentou-se no sofá e ligou o aparelho de televisão, na tela, um programa para jovens. Quando a mãe chegou do trabalho, viu o estado da menina. Correu para o quarto e encontrou o corpo fresco do marido. Voltou para a sala, deu um safanão na filha e trancou-se no quarto do casal. Uma semana depois, os vizinhos sentiram o forte odor de putrefação e chamaram a polícia. A menina foi encontrada no sofá inconsciente, o aparelho ainda estava ligado. O corpo do padrasto jazia no quarto sem suas partes. A mãe, em outro cômodo, nua, pulsos cortados e com o membro do marido enfiado em sua vagina.

Um comentário:

  1. intenso....a mãe desse conto segue perfis um tanto comuns nesse contexto.....chocante.

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