segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SAÍDA RADICAL

Durante toda a sua vida, César havia tentado melhorar as coisas para si. Acreditou que boa conduta civil, domingos de missa e um pouco de simpatia, já seriam suficientes para o sucesso. Mas as coisas estagnaram um pouco depois dos trinta. Sua vida resumiu-se em um casamento frustrado, e uma distribuidora de bebidas que amargava o vermelho já alguns meses. A faculdade de administração, não lhe dera o empreendedorismo necessário para seu crescimento como comerciante e teve que se virar, vendendo espetinhos de carne, em terminais de ônibus, para equilibrar o orçamento. Como se já não bastasse seu “affair” extraconjugal, lhe comunicara um atraso em seu período. Pela primeira vez, César sentiu-se inseguro, e no quadro da depressão. Certa noite, disse à esposa que iria “bater uma bola” com os amigos e que depois iria tomar “umas e outras”, sua esposa disse que não se importava mais com o que ele iria, ou não fazer. Todos sabiam sua intenção.
Seus encontros com a amante eram muito bem calculados. Magda também tinha marido e não podia, em hipótese nenhuma, ao menos desconfiar de seu romance com César. O esposo passava meses em viagem e César, aproveitava então, para fazer algumas visitinhas noturnas, mas dessa vez, a coisa era mais séria e os ânimos floresceram rápido, quando Magda confirmou a gravidez:
_Cesar, você me ama?
_Uma coisa não tem nada haver com outra.
_Mas esse filho é seu César e eu te amo...podemos simplesmente...sumir. Deixe tudo para traz, afinal você vive reclamando de sua vida...vamos ter outra...juntos. - Enquanto Magda argumentava uma saída radical para o problema, César, ficou parado, fixo num ponto. Hesitou por um momento, refletiu mais um pouco, e disse por final:
_ Faça as malas, não tenha pressa, pegue tudo que precisar inclusive o passaporte. Faça uma carta de despedida, afinal, o pobre tem que saber o porquê, a esposa o deixou, mas não cite o meu nome - Dada as instruções, Magda disparou feliz para o quarto a fim de fazer as malas. Como orientada, escreveu a carta despedindo-se do esposo, sem citar o nome do amante. Quando voltou para a sala, com a carta em punho, achou estranho o chão estar forrado com plásticos e jornais, “César cadê você?” por um instante lhe veio à mente um filme de máfia que havia visto há algum tempo atrás. Por um milésimo de segundo, sentiu uma dor aguda na nuca e desfaleceu-se. César enrolou-a nos plásticos e jornais que, estrategicamente, ali havia posto, e levou o corpo para o banheiro. La separou os membros da amante pelas juntas e embalou tudo cuidadosamente. O que havia no estômago, foi descarga a baixo. Fez uma faxina geral, pensava em suas digitais e em vestígios de sangue. Convenceu-se que estava tudo limpo e ordenado, colocou as bagagens e o que restou do corpo da amante, no porta- malas do carro. Rodou alguns quilômetros, até distanciar-se o suficiente, para não levantar suspeitas. Parou o carro, desceu as malas, queimou tudo, menos o que restou do corpo. Voltou para casa já pela madrugada.
Depois do ocorrido, César mudou um pouco. Preocupava-se menos com as coisas, deixou a igreja de lado e sentiu-se, estranhamente feliz. Seu casamento continuava na mesma e a distribuidora de bebidas, ainda não havia se levantado, mas seu espetinho, vendido nos terminais de ônibus, virou um sucesso.

Marcos Barreto

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