segunda-feira, 16 de agosto de 2010

VESTIDO VERMELHO DE CETIM

Cada vez que Jorge abria o guarda-roupa, caia em prantos. Não suportava a ausência da mulher que tanto amava e havia perdido a pouco em um trágico acidente de automóvel. Dez anos de casamento e tudo acabara de forma abrupta e trágica, sobrando apenas aquele vestido vermelho de cetim, que dera à mulher no aniversário de uma década de matrimônio. O vestido tornou objeto de culto à esposa que lembrava amargurado, as formas tão bem definidas do corpo que o vestia. Jorge não entendia porque a vida havia sido tão cruel, tirando de si, o amor que o fazia vivo. -“Não há razão para existir” - Pensava. A idéia do suicídio lhe passava pela cabeça e era algo que Jorge tratava com seriedade - “Como farei? Envenenando-me?... Não... Pode ser dolorido... um tiro?... Vai fazer muita sujeira. Talvez... cortando os pulsos... isso sim deve doer.”- Divagava um tanto patético, como iria tirar a própria vida, agarrado ao vestido vermelho de cetim que pertencera à mulher. Passado algum tempo, Jorge sofria cada vez menos a ausência da esposa e foi abandonando a idéia do suicídio. Resolveu retomar sua vida aos poucos. Desde o acidente da esposa Jorge não havia dado as caras na empresa em que trabalhava e todos ficaram um tanto surpresos, quando o viram passando pela recepção.
Cidinha era nova na empresa e soube, através dos seus colegas, o infortúnio de Jorge. Quando o viu pela primeira vez, algo lhe tocou profundamente. Sentiu compaixão e não conseguiu tirar os olhos de Jorge, qual notou certo interesse da colega que até então não conhecia. Cidinha era o tipo de mulher que conquistava a todos com seu jeitinho meigo e enormes olhos claros que mudavam de coloração à medida do dia. Tinha formas privilegiadas, e vestia-se com sobriedade. Era o tipo de mulher que poderia dar sentido à vida de Jorge que muito precisava. A aproximação dos dois foi inevitável e em poucos dias de convivência no escritório, o romance foi consumado. Cidinha estava tão envolvida com Jorge que resolveu pedir as contas do trabalho, assim não teria nada que impedisse os dois de ficarem juntos. O tempo passou e Jorge finalmente pode despedir-se do vestido vermelho de cetim. Nunca comentou com Cidinha seu descontrole pelo tal vestido. Em seu lugar, estavam as coisas de Cidinha que resolveu ir viver ao lado do seu amor. Casaram no mesmo ano em que se conheceram, para a alegria de Jorge, que não mais sofria a morte da esposa.
Certo dia, Cidinha, resolveu fazer uma surpresa para Jorge. Foi até uma boutique, comprou um lingerie, coincidentemente e sem ter a mínima idéia, comprou também um vestido vermelho de cetim, idêntico ao da esposa falecida do seu agora marido. Preparou um jantar especial e gastou uma quantia expressiva em uma boa garrafa de vinho. Quando Jorge chegou e casa e viu Cidinha em um vestido idêntico ao da falecida esposa, surtou. Virou a mesa onde Cidinha havia posto o jantar que havia preparado com tanto carinho para o esposo, e aos safanões, arrancou de Cidinha o tal vestido. Berrando dizia que ninguém, jamais iria poder comparar-se à esposa falecida. Magoada, Cidinha o abandonou para sempre. Jorge depois tentou argumentar que havia cometido um erro, e que isso nunca mais iria acontecer, mas não adiantou. Cidinha não tinha mais amor por Jorge, tinha medo agora. Passado um mês do ocorrido, Jorge matou-se com um tiro na boca.


Marcos Barreto

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